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Nos últimos anos, o trabalho remoto e o regime híbrido deixaram de ser experimentos para se tornarem realidade consolidada em milhares de empresas. A promessa era clara: mais qualidade de vida, menos deslocamentos, maior equilíbrio entre vida pessoal e profissional. E, de fato, a maioria dos profissionais mostrou que consegue entregar mais, melhor e com menos desgaste.

Mas aí entra um ponto delicado: a tentação de usar ferramentas de Inteligência Artificial para medir produtividade. À primeira vista, parece uma solução “científica” e definitiva. Só que não é bem assim. Essas ferramentas podem falhar — e falham feio. Contabilizam pausas de forma errada, interpretam momentos de concentração silenciosa como “ociosidade”, ou simplesmente não entendem que produtividade não se mede só em cliques e teclas digitadas.

Claro, ninguém aqui é ingênuo. Todo mundo sabe que existe, sim, aquele funcionário que enrola, que se aproveita do home office para trabalhar menos. Isso é real e precisa ser tratado de forma pontual. Mas transformar casos isolados em regra é um erro estratégico grave. A maioria dos profissionais não só manteve, como aumentou seu desempenho no remoto, justamente porque ganhou tempo e qualidade de vida.

O perigo está em usar números distorcidos para justificar exigências equivocadas, como a volta obrigatória ao presencial em tempo integral. Seria um retrocesso: punir todos por conta de alguns. E isso gera um efeito ainda pior: quebra de confiança, desmotivação e perda de talentos — justamente em um cenário em que reter bons profissionais é questão de sobrevivência.

O que precisamos é de equilíbrio e visão de longo prazo. Produtividade deve ser avaliada de forma contextual, olhando entregas, resultados e qualidade, e não apenas relatórios de softwares. O trabalho remoto não é o vilão: ele é parte do futuro. O verdadeiro desafio é aprender a gerir equipes de forma madura, sem cair na armadilha da generalização.

No fim das contas, esse debate não é só sobre tecnologia de monitoramento. É sobre confiança, cultura organizacional e, principalmente, sobre o futuro do trabalho.